Artes
- Ticiano Leony
- 27 de jun. de 2021
- 2 min de leitura
Sucesso nas artes, por que não?
Ticiano Leony
Sempre me vem à cabeça a indagação, uma dúvida atroz:
-Por que uns artistas dão mais certo do que outros?
Quando escrevo “dar certo”, não é apenas do ponto de vista de valorização monetária da obra, mas do ponto de vista do reconhecimento. Indubitavelmente uma coisa leva à outra.
Os exemplos estão aí, aos montes.
Seja nas artes cênicas, plásticas, na composição musical, na literatura ou na interpretação. Qual é o fenômeno? Vemos muitas vezes em barzinhos um artista cantando, afinado, dono de ótima voz
e presença de palco irretocável, interpretando sucessos musicais de forma magistral. Perguntamos ao garçon de quem se trata e ouvimos a resposta nada esclarecedora:-É o crooner da banda!
Nem o garçon sabe, no entanto o sujeito canta muito melhor do que muitos que estão na mídia. Ou vemos na feirinha de arte uma tela à óleo muito bem pintada, com uma temática agradável e harmônica. Vamos junto, às vezes o artista está trabalhando ali, na frente de um cavalete, pintando outra tela. -Um mestre! -você pensa. Procura saber seu nome. Ele diz, você discretamente se vira e consulta o Google! Nada, nenhuma referência. Você procura refinar a pesquisa colocando o nome da cidade ou outro indicador qualquer:-Nada! Mas o cara é um gênio. Você toma coragem e pergunta o valor da tela. O que ele pede -você imagina- mal dá para pagar o material empregado: tecido, chassis, tinta, solvente… Você compra? Possivelmente não. Nos leilões da internet há centenas, talvez milhares de ótimos quadros de desconhecidos ofertados a preço vil e ainda emoldurados! O fenômeno é mundial e pode ser sentido nas ruas e praças de Veneza, Praga, Florença, Marselha, Londres, Buenos Aires ou Sintra. Qual a explicação? Num sebo de Cascais você se encanta por um livro simpático. Vasculha a memória, mas não lembra o nome do autor. Pergunta o valor:-Dois Euros. Você arrisca. Paga e leva. Começa a ler no ônibus de volta a Lisboa. A leitura é tão boa, tão agradável e cativante que você segue lendo no hotel. Tem até vontade de desistir de sair para jantar, tão intrigante que é o texto. No restaurante, enquanto espera o pedido, consulta o Google. Nada, não há referência nem ao autor nem à obra! Por que tudo isto acontece? Faltou padrinho? Marchand? Produtor? Editor? O fenômeno não é novo: Vincent Van Gogh só foi reconhecido depois de morto, assim como outros tantos expoentes nas muitas áreas das artes. Acho que isto merece um estudo. Talvez um estudo sobre a injustiça…
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