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Comovente

  • Foto do escritor: Ticiano Leony
    Ticiano Leony
  • 11 de nov. de 2021
  • 2 min de leitura

Comovente

Ticiano Leony

11/11/2021


Tudo em que se presta atenção, tem uma história. Algumas vezes é até comovente.

Fui à uma agência bancária resolver um destes assuntos que, à distância, via digital é impossível. Estacionei o automóvel num pequeno largo na Pituba. Havia uma banca de revistas desativada. E só. Coloquei a máscara e saltei do carro. Atrás da banca, enquanto o sinal fechava para o trânsito, observei dois cães de rua amarfanhados entre restos de tecidos, papelões e sacos de pano, mas com coleiras e guias! Quando houve um intervalo no tráfego, atravessei.

Na porta do banco um veículo esquisito, grande, enorme, aberto, motor potente, um triciclo gigante que mostrava ter todas as desvantagens das motocicletas e todas as desvantagens dos automóveis. Mas esta parte nada tem de comovente, nem era para fazer parte deste caso. Divaguei, mudei, sem querer, o rumo da prosa.

Meia hora depois saí da agência com o assunto resolvido. Coloquei uma cédula de cinco reais no bolso para dar a alguém que argumentasse ter tomado conta do veículo e eu não ter que abrir a carteira no meio da rua. Cuidado e canja de galinha não fazem mal algum. Caminhei pela calçada em direção ao largo. Na esquina, do outro lado, vi que havia um homem sentado na bagunça, junto aos cães. Era um mendigo bem maltrapilho, aparentemente o expurgo da raça Humana no mais baixo grau de degradação. À medida que atravessava a rua, observava o homem.

Ele estava almoçando, pegando a comida com uma colher, diretamente de uma vasilha plástica transparente. Era, pela aparência, uma gororoba, mas era do que dispunha. Ele levava uma colherada à boca e enquanto mastigava dava um bocado com a mesma colher a um cão e a colherada seguinte ao outro, compartilhando o alimento e a colher, sem qualquer asco!

Ao me ver subir a calçada ele se levantou.

-Estes cães são seus? -perguntei.

-São, sim senhor. Peguei os dois, ainda filhotes, jogados pra morrer num lixo. Daí venho cuidando!

-Estão bonitos. Têm até coleira e guia! -disse eu.

Ele olhou para mim com a colher na mão, talvez incrédulo com o meu comentário . Ao contrário do que havia planejado, abri a carteira no meio da rua e dei a ele outra nota maior.

-Este agrado é porque você está zelando dos cães.

Consegui dar ao homem alguma recompensa por estar cuidando daqueles vira-latas. Ele agradeceu muito e, ao modo dele, me cobriu de bênçãos.

-Amém! -disse eu comovido, entrando no carro para ir embora.

 
 
 

2 Comments


Linda Neves, jornalista social
Linda Neves, jornalista social
Nov 12, 2021

Comovente mesmo, ele com pena dos cães .O espírito de solidariedade de um que nada tem com 2 animais que tem menos que ele.

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Silvia Pimentel
Silvia Pimentel
Nov 11, 2021

Eles estão mais próximos de si , que dos outros. Há que ter sensibilidade, para perceber o outro. Parabéns!!!!

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