De Achel Tinoco, O Pastor e o Anjo. Prefácio de Ticiano Leony
- Ticiano Leony
- 20 de out. de 2021
- 2 min de leitura

Prefácio d’O Pastor e o Anjo
Ticiano Leony
Eis que me chega às mãos, esta história virtual da lavra de Achel Tinoco. Devosalientar de pronto, que recebi virtualmente através de e-mail que tive que baixar, instalar num pen drive e levar para imprimir numa copiadora, vez que sou afeito aos escritos em papel.
Feito isto, deleitei-me com a leitura da história bem moderna de um casal para lá de viável. Embora surpreendente, ao longo do texto, tudo leva a crer que o caso é tambémperfeitamente verossímil. Um encontro virtual numa sala de bate-papo virtual que conduz em pouco tempo um amante inicialmente virtual aos braços da protagonista que aparentemente é bem real pois “tem o olhar envolto num braseiro de pecados”. Além de devassa, voluptuosa, desafiadora. Ela só não teve sucesso (será?) com o autor da história,talvez pelo fato dele ser real.
Achel usa de artifícios verídicos, factíveis,além de acontecimentos cotidianos ou sazonais para criar uma ficção palpável, pós realismo. Brinca com as frases de efeito –“O mar jogara sobre a terra todos os ventos de que dispunha” ou “O amor é uma ilusão que no peito habita” – abusa das figuras de linguagem –“Devolveu o bilhete ao túmulo do velho livro...” – explica com detalhes osambientes –“...placa de sinalização perfurada a bala por vândalos” – explora as análises sociais –“...as igrejas são regidas por homens, na maioria homens de negócios”, asfilosofais –“...invasivo é o amor que entra no coração da gente, corrói tudo lá por dentro e, muitas vezes, se nega a sair.”, e até as afeitas às crenças –“...acreditar em Deus é a forma simplória que as pessoas têm de se protegerem contra os males da vida”, para descrever brevemente o comportamento humano com suas agruras, suas angústias, seus desencontros, suas dúvidas, sua ambiguidade, suas incertezas, seus paradoxos. Mexe, durante a narrativa, num vespeiro, colocando o aborto como tema na entrevista da personagem com o autor e exteriorizando nas falas, as opiniões que permeiam a discussão fora do livro de ficção. Conclui com uma frase lapidar, dizendo à personagem: “Talvez você seja a fantasia de si mesma”.
Num livro relativamente curto, Achelconsegue prender a atenção do leitor e simultaneamente abordar muitos assuntos do cotidiano moderno que se imiscuíram nas famílias atuais. O autor oferece um fim inesperado de uma história que começa num sábado de Carnaval com personagens bem reais, destes que encontramos todos os dias pelas ruas da Bahia. Descreve locais concretos como o Parque Júlio César, menciona pessoas conhecidas como Daniela Mercury e Chico Buarque e cidades verdadeiras como Cícero Dantas, Ipiaú e Itacaré ou capitais como Recife, Rio de janeiro e Salvador.
Texto interessante que cativa o leitor desde as primeiras frases, mas que deveriater na capa uma tarja de “não recomendado para menores de 60 anos”!
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