De Sandra Azevedo, Uma Mochila e nada Mais
- Ticiano Leony
- 20 de out. de 2021
- 2 min de leitura

Orelha de “Uma Mochila e nada Mais”
Num fim de dia de domingo modorrento, minha prima Andréa me ligou e perguntou se eu conhecia Sandra Azevedo. Imediatamente fui remetido à Rua Santa Rita de Cássia, bairro da Graça, em Salvador. Anos ’60, um pouco antes ou um pouco depois, relembrei das moças filhas de Luiz Azevedo, médico como meu pai. Éramos todos meninos, do jeito que se chama hoje de pré-adolescentes. Vizinhos de Luiz Azevedo, moravam outros dois médicos, Jessé Accioly e Newton Guimarães, todos com filhos em idades aproximadas. Em 1970 mudamos para o bairro que na época ainda era Boca do Rio. Coincidentemente Luiz Azevedo também se mudou. Apesar disto, perdemos o contato. Andréa pediu que ligasse para Sandra. Depois de alguns minutos de conversa, fui escalado para reler Uma Mochila e Nada Mais. Sandra, modestamente, me disse que era uma narrativa de viagem, mas uma viagem especial: 800 km pelo Caminho de Santiago. Achei que fosse apenas um relatório como se lê no Google, como um guia da Wikipédia. Enganei-me redondamente. O livro é, de fato, um testemunho nu e cru, dos 33 dias que Sandra percorreu, árdua e bravamente, desde San Jean, conhecido pelos iniciados n’O Caminho como o princípio do “caminho francês”, até a Catedral de Santiago de Compostela. Mas a grande virtude da leitura, não se resume a isto. O texto chega a ser de autoajuda, tantas as lições de vida que Sandra aprendeu n’O Caminho e que, com maestria, divide com quem se dispuser a ler sua intrigante trajetória. As dúvidas que surgem nos dias caminhando sob o sol quente ou nas noites insones, a valorização de nuances da vida que no cotidiano não se dá bola, a coexistência com outros humanos completamente desconhecidos, que O Caminho une umbilicalmente, as infames dores nos pés torturados por seixos e pedras, calejados pelas botas criadoras de bolhas inflamadas e hostis, até o detalhe da temperatura da água do banho e a reles descoberta da forma primitiva de precisar se acocorar para a básica necessidade fisiológica diária. Na sequência das lições aprendidas à duras penas ao longo d’O Caminho que percorreu Alexandram, nome Composteliano de Sandra, há os casos esquisitos, com vertente espiritualista como o de José, de Finisterre. Sandra tem explicação para tudo e, sem economia de detalhes, tudo ensina. Afinal, ela estudou muito para fazer O Caminho, o que faz uma grande diferença em relação à quem vai “no susto”. Daí a suma importância deste livro que Sandra escreveu e que traz segredos que ela, imbuída do espírito de solidariedade adquirido n’O Caminho, pedagogicamente divide com os futuros peregrinos.
Ticiano Leony
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