Dormientibus…

Dormientibus…

Ticiano Leony

…non succurrit jus! Diz uma velha máxima do badalado direito romano. De fato, não apenas a justiça não pode atender a quem não a procura. Também os outros ofícios. A Medicina não trata se os cuidados não forem procurados, nem a Odontologia, a Engenharia e a Arquitetura. Nem na carreira eclesiástica o socorro é automático. Mas, e se a Justiça for procurada e fizer ouvidos moucos? Há de se recorrer a que? No Brasil temos visto e vivenciado este descaso, esta banalização da Justiça, não apenas do Sistema Judiciário em si, mas até dos escritórios e dos advogados quando procurados. Parece até que foram cooptados pelo sistema ou a ele se habituaram. Levam mor dos casos na fleugma, na valsa, empurrando com os abdomes como permite o trâmite oficial. Chega-se para uma consulta e tudo naquele primeiro momento é facilidade!

-Não há o que temer!

Ou

-É causa ganha, não se preocupe!

Toma-se as assinaturas na procuração e o vivente vai embora crendo resolvidos seus problemas. Ledo engano. Se a burocracia judiciária emperra o processo, não muito menos fazem os causídicos.

O terreno da justiça brasileira é pantanoso e lamacento, onde vicejam frondosas árvores copudas que sombreiam os meandros das trilhas por onde deveriam seguir os processos. São muitos caminhos e os mais variados descaminhos habitados pelo mau humor do juiz, pela TPM da juíza, pelos maus bofes dos oficiais de justiça, pelas infinitas taxas cartoriais e seus funcionários de pé pesado, além dos calhamaços de laudas agora digitalizadas, porém presentes no interminável ecran dos computadores. O processo, sempre imenso e pesado, cheio de arrazoados, palavras e termos de impossível compreensão, arrasta-se nas varas, dormitam nas gavetas digitais dos juízes, amodorrem e mofam os bytes até o “Deus dará”. O vivente liga para o patrocinador da causa, conversa, apela, suplica, mas de volta apenas ouve desculpas e considerações.

-Vai procurar outro escritório!

-Deus me livre, é a mesma coisa! Pelo menos a este já estou acostumado. Tornamo-nos até bons amigos…