Hipocrisia
- Ticiano Leony
- 21 de jan. de 2021
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Hipocrisia
Ticiano Leony
Assisti, há uns poucos dias, a um filme antigo, quase um clássico, com Charlton Heston. O filme em todos os idiomas tem o mesmo título: Moisés. É a célebre história do Êxodo quando os hebreus, feitos escravos pelo faraó vivido por Yul Brynner, migram para a Terra Prometida guiados por Moisés. No meio do caminho, ao pararem ao pé do monte Sinai, Moisés vai buscar as tábuas com os mandamentos e, ao retornar, encontra a multidão na esbórnia reverenciando a estátua de um bezerro revestido de folhas de ouro. Moisés dá uma bronca e com a ajuda do Eterno destrói o ídolo dourado. Pois bem, todo este povo era hebreu e deveria cultuar apenas a um Deus que não tem representação icônica. Depois deste tempo, Cristo, filho de Deus, veio à Terra pregar a paz, a bondade, o altruísmo e foi pregado à uma tosca Cruz de madeira. Muitos anos após sua passagem pelo planeta, nasceu o Cristianismo e mais adiante a Igreja Católica e seu portentoso domínio pelo mundo afora. Cristo e seus seguidores e discípulos eram pobres “de marré deci”, assim como os escravos hebreus que fugiram do Egito. Então, era de se esperar, que os templos da religião que reverencia o Cristo, também fosse pobre e humilde. Mas não é. Hoje, dia 21 do ano 21 do século XXI, dia alardeado nas redes sociais, fui a uma missa em memória de uma grande amiga desaparecida há um ano. O padre celebrante com discreto sotaque estrangeiro, bem paramentado e auxiliado por três ou quatro senhoras igualmente vestidas a caráter, um diácono, outro auxiliar e mais duas senhoras ajudantes, o tempo todo nominou a missa como “eucaristia”, palavra que vem do grego “efcharistó” e significa “gratidão”. Também teve música bem cantada, ar condicionado e até transmissão via internet ao vivo e a cores. Concluído o tempo regulamentar da missa, o padre declarou que se faria a consagração do Corpo de Cristo. Eu nunca havia presenciado tal cerimônia. O enorme ostensório, efusivamente dourado, prateado e brilhante, foi acomodado sobre uma pequena estante no altar para lhe dar destaque. Depois o padre, auxiliado pelo diácono, usando uma sobrepeliz dourada, levantou-se do genuflexório e ergueu o ostensório apresentando-o à congregação. Senti-me numa corte monárquica da Europa setecentista, não apenas pela riqueza dos paramentos bordados a fios dourados ( certamente não eram de ouro) como pela extravagante coroa que encima a peça ostensivamente. Além disto houve incenso dispersado pelo celebrante ajoelhado e muita cantoria além das inefáveis máscaras pandêmicas. Foi uma bela cerimônia, com certeza, mas completamente antagônica em relação ao que pregou o Cristo. Uma observação mais atenta e o assistente pode concluir que tudo não passa de hipocrisia, ou também em grego, ypokrisia!
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