
MonAmour
- Ticiano Leony
- 18 de fev. de 2021
- 2 min de leitura
O livro de Ticiano Leony usa bem o tempo que o tempo tem. Atravessa duas gerações e três guerras. A Guerra Civil Espanhola durou de 1936 a 1939. Terminou com a vitória dos fascistas, levando o General Franco a uma ditadura da extrema direita. Nesta época, milhares de espanhóis fugiram para a França. Entre eles estava um casal de Bascos que chegou ao sul da França em estado de penúria.
É interessante acompanhar a saga deste casal, desde o período em que fez trabalhos braçais e teve que aprender a língua que não falava, até chegar a Paris, a cidade que era o sonho de todo artista, já que o marido queria exercer a profissão de pintor.
Paris vivia o período chamado de BELLE ÉPOQUE. A vida parecia sorrir para todos, principalmente para os intelectuais, escritores e artistas. Depois do drama vivido pela Primeira Grande Guerra, que durou de 1914 a 1918, ninguém pensava numa segunda guerra apesar de tudo fizesse crer que ela estava próxima. Tanto que a apelidaram jocosamente de “drôle de guerre”, sem imaginar que ela chegaria e não seria nada “drôle”.
Um clima de otimismo e irresponsabilidade reinava nos bares, nos cafés e ambientes intelectuais. É a Paris retratada por Hemingway em “Paris é uma festa” e por Woody Allen em “Meia noite em Paris”. Escritores e intelectuais americanos se mudaram para a cidade, aproveitando a grande valorização de sua moeda. Entre estes estava a escritora Gertrude Stein que vivia com seu irmão Léo e sua amante Alice B. Toklas. Sua casa era o ponto de encontro de todos os artistas. Era uma verdadeira “open house”. Todos eram acolhidos, desde que tivessem talento. Incentivava a artemoderna. Entre os frequentadores estavam Hemingway, Picasso, Max Ernst, ou melhor “tout le monde”.
O jovem basco, que tinha ambições de artista, descobre que sua pintura, acadêmica, não teria chance neste ambiente modernista. Com sua sorte, que beira a utopia, irá ter muito sucesso comocomerciante vindo a enriquecer.
A Belle Èpoque terminaria com a chegada da Segunda Grande Guerra que, como os franceses iriam descobrir, não tinha nada de “drôle”. Mas a família, já considerada francesa, não iria sofrer revezes. Pelo contrário, enriquecia vendendo seus produtos para os Alemães. Isso valeria a eles o título de “colabos” que era o nome dado aos colaboracionistas, ou seja, ao franceses que colaboraram com os ocupantes inimigos. Não era uma boa causa.
A guerra acaba e a vida francesa volta ao normal. Nos capítulos que se seguem, entra em cena a segunda geração, num perigoso jogo de amor e sedução. É uma parte interessante do livro. O triângulo amoroso que se forma é logo transformado em quarteto e em quinteto. É como na “Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade: “João amava Teresa que amava Raimundo, que amava Joaquim, que amava Lili que não amava ninguém”. Só que, no livro, todos amavam alguém. Como é resolvido este imbróglio? Leiam o livro e irão descobrir. Muitas surpresas!
Lúcia Helena Monteiro Machado
escritora
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