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Morrer, só de amor

  • Foto do escritor: Ticiano Leony
    Ticiano Leony
  • 15 de dez. de 2020
  • 1 min de leitura

Morrer, só de amor

Ticiano Leony

Eu quero morrer sem adoecer.

Tanto não me apavora a morte

Quanto me aterroriza o sofrimento.

Deixar a vida abruptamente é pura sorte

O leito é castigo que nunca termina

Morrer de repente é merecimento.

Nosocômio infernal que nada oferece

Cheiro do éter a inebriar os sentidos

O socorro célere que nunca aparece

Na agonia vil de quem se lamenta

Enquanto a enfermidade, à cama,

O sofrido enfermo acorrenta.

A palavra do doutor nunca é verdade

O desvelo da enfermeira é moda ensaiada

A comida insossa, quando ainda há comida,

O soro na veia que goteja e não para.

O recurso do banho onde a mão não alcança,

Padecer no hospital - morreu a esperança.

A morte, a boa morte, tem que ser rápida.

Pode até ser dolorida, mas por um átimo,

Uma explosão, uma facada, um tiro,

Infarto do miocárdio, aneurisma cerebral

A queda de uma altura que no vazio se lança,

Ou o furo certeiro do fio de um punhal.

O que abomino e me arrepia a nuca,

é uma cama de hospital. Tubos, agulhas,

parafernália tecnológica e trágica.

Anestesia, coma, fármacos e plástico.

Nos monitores a linha oscilante e mágica,

insinua sucumbir num momento nostálgico.

O melhor, no entanto, é amar e morrer.

O coração acelera no ato supremo,

a vista escurece, o corpo estremece...

Este segundo de glória desejo p’ros seus!

Não há tempo sequer pra fazer uma prece,

-Meu amor, já me vou, até logo, adeus...

(7-12-2009)

 
 
 

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