Uma farmácia libidinosa

Uma farmácia libidinosa.

Ticiano Leony

Tudo poderia ser evitado se o brasileiro fosse menos criativo e menos ousado!

Um fulano, passado dos sessenta e em boa forma, camisa estampada colorida e bermuda lisa, da moda, mocassim e cabelos alvos bem criados, estilo galã de cinema americano, entra numa dessas farmácias bem sortidas que mais parecem uma “delicatessen”.

Circula calmamente entre as estantes com prateleiras repletas de produtos coloridos. Shampoos, sabonetes, protetores, escovas e dentifrícios os mais diversos. Escolhe alguns itens e os coloca numa cestinha. Aproxima-se do balcão onde uma atendente balzaquiana e experiente o aguarda. Parece até uma casa de tolerância com a cafetina a postos, cabelos oxigenados e um excessivamente rosado batom. Cumprimentam-se. Ela o trata com uma intimidade que ele não deu. Olha dentro da cesta e arregala os olhos quando vê um tubo de gel lubrificante íntimo. Nitidamente ela se entusiasma arregalando os olhos emoldurados por sobrancelhas artificiais. Antes que ele peça qualquer medicamento, prontamente ela lhe oferece um reforço vitamínico que promete aumentar os níveis de testosterona. Ele declina. Ela não desiste e lhe oferece um pacote de tratamento contra a disfunção erétil. Ele olha fixamente para as caixas coloridas e escolhe uma. Pronto! Ela volta à carga com o turbinador de testosterona. Ele aceita, vencido. Pede então dois remédios triviais, agradece e vai para o caixa! Ela se exibe para as outras vendedoras sentindo-se a mestra, indutora de vendas especializada em idosos vistosos! Esse tipo de profissional só a Bahia oferece: médico, farmacêutico, psicólogo e geriatra numa só pessoa. Dará certo?